quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Álvaro de Campos, Apontamento:

    "A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
    Caiu pela escada excessivamente abaixo.
    Caiu das mãos da criada descuidada.
    Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

    Asneira? Impossível? Sei lá!
    Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
    Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

    (...)

    Olham os cacos absurdamente conscientes,
    Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

    Olham e sorriem.
    Sorriem tolerantes à criada involuntária.

    Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
    Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
    A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
    Um caco.
    E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali."

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Jean-Paul Sartre, em A Idade da Razão:

"Do outro lado da porta ela o esperava, por certo já estava nua. Mas ele não tinha pressa. Um corpo nu, cheio de odores nus, uma coisa terrível, era o que Lola não compreendia. Ia ser necessário, agora, deslizar até o fundo de uma sensualidade pesada, de gosto forte."